Elaborado por alunos do 1° B, sob orientação do professor Sarah Monteath dos Santos
Caruaru, 2023: CN Studios.
Resumo
A mitologia indígena é uma parte essencial da herança cultural das comunidades Nheengatu, representando uma rica tapeçaria de narrativas que revelam a relação profunda entre a natureza e a espiritualidade. Este trabalho mergulha na mitologia dos Nheengatu para explorar sua visão única sobre a criação do mundo, centrando-se na jornada simbólica da água à vida. Ao analisar mitos, rituais e cosmologias tradicionais, esta pesquisa revela como os Nheengatu concebem a origem do mundo, a importância vital da água e a interconexão entre a natureza e a existência humana. O atual trabalho também destaca a relevância contemporânea dessas crenças, à medida que as comunidades Nheengatu buscam preservar e compartilhar sua mitologia ancestral em um contexto de crescente desafio ambiental e cultural.
Palavras-chave: Teorias da Criação do Mundo; Cultura indígena; Amazônia.
Abstract
Indigenous mythology is an essential part of the cultural heritage of Nheengatu communities, representing a rich tapestry of narratives that unveil the profound relationship between nature and spirituality. This work delves into Nheengatu mythology to explore their unique perspective on the creation of the world, focusing on the symbolic journey from water to life. By analyzing traditional myths, rituals, and cosmologies, this research reveals how the Nheengatu conceive the origin of the world, the vital significance of water, and the interconnectedness between nature and human existence. This work also underscores the contemporary relevance of these beliefs as Nheengatu communities strive to preserve their ancestral mythology in a context of mounting environmental and cultural challenges.
Keywords: Creation of the World theories; Indigenous culture; Amazon.
Introdução
Os mitos de criação são narrativas que buscam explicar a origem do universo, da terra, da vida e da humanidade a partir de uma perspectiva religiosa ou cultural. Esses mitos expressam a visão de mundo de um povo, seus valores, suas crenças e sua identidade.
Neste trabalho, vamos analisar o mito de criação dos nheengatus, um povo indígena que habita a região amazônica do Brasil e da Venezuela. Os nheengatus são falantes da língua geral amazônica, também chamada de nheengatu, que significa “língua boa” ou “língua franca”.
O mito de criação dos nheengatus narra como Tupana, o deus supremo, desceu do céu e criou o mundo a partir do vazio e da escuridão. Ele também criou o sol, a terra, os animais e os seres humanos com seu sopro divino. Esse mito revela aspectos importantes da cosmologia, da cultura e da história dos nheengatus.
Objetivos
Objetivo Geral: Examinar e compreender mitos indígenas brasileiros, com ênfase em um mito nheengatu da Amazônia, para ilustrar a visão de mundo e a espiritualidade das comunidades indígenas. Isso é feito com o propósito de promover uma maior compreensão da diversidade cultural, respeito pelas tradições indígenas e reflexão sobre como as narrativas mitológicas moldam a identidade cultural e a relação com o ambiente natural.
Objetivos Específicos:
- Explorar a riqueza das narrativas mitológicas indígenas no Brasil.
- Analisar um mito específico da cultura nheengatu para compreender a criação do mundo e a relação entre divino, natureza e humanidade.
- Destacar a importância cultural e espiritual dos mitos indígenas como elementos fundamentais da identidade e espiritualidade das comunidades.
- Promover o respeito e valorização das tradições culturais indígenas para uma compreensão mais inclusiva da diversidade cultural no Brasil.
- Estimular a reflexão sobre como as narrativas mitológicas influenciam a compreensão de uma cultura e sua interação com o mundo.
Metodologia
Acerca do processo de desenvolvimento do presente trabalho, foram realizadas extensas pesquisas bibliográficas, encontradas na forma de livros ou revistas científicas. Relativamente à sua finalidade, esses materiais auxiliam o pesquisador a se aprofundar num determinado assunto; sendo também útil para a fundamentação de pesquisas ou na manipulação de suas informações, é considerada o primeiro passo de uma pesquisa científica (MARCONI; LAKATOS, 1992).
Para uma análise comparativa, as narrativas da criação do mundo na mitologia Nheengatu foram contrastadas com outras tradições mitológicas indígenas da região amazônica, identificando semelhanças e diferenças em suas representações simbólicas.
Para a escrita, foram utilizadas as seguintes palavras-chave: nheengatu, mito da criação, cosmogonia indígena, língua geral e escritas. Também foram utilizados artigos em português e espanhol, encontrados em diversas fontes credíveis, confiáveis e contundentes. A favor do critério analítico da pesquisa, foram excluídos os artigos que apresentaram distorção da sua própria tese, falta de clareza ou alguma imprecisão no desenvolvimento.
Nessa verificação, foram preferidos os artigos, livros e notícias com alto grau de relevância, de acordo com sua data de publicação (1800+) ou conexão com toda a questão estudada. O trabalho será socializado através da exposição dialogada pelos componentes, em data oportuna, apoiada numa apresentação em slides, por meio de documentação e ilustração.
Abordando uma metodologia dinâmica, o objetivo é cativar a atenção do público em uma experiência que narra o mito nheengatu sobre a origem do universo e dos seres vivos.
Desenvolvimento
2.1. A origem do mundo: “vazio e escuridão”
No início da narrativa, o mito descreve um estado onde não havia nada além de água e céu, um vazio absoluto mergulhado na escuridão da noite. Esse cenário inicial é crucial, pois estabelece a necessidade da criação e o contraste com o mundo que será formado. Segundo o pesquisador Eduardo Viveiros de Castro, “o mito nheengatu é uma das mais belas e complexas versões do tema da criação do mundo entre os povos tupi-guarani” (CASTRO, 1992, p. 23). Ele também afirma que esse mito expressa uma concepção de tempo cíclico, onde o mundo é constantemente recriado a partir do caos original (CASTRO, 1992, p. 25).
2.1.1. A descida de Tupana: o nascimento do Sol e da Terra
O mito prossegue com a descida de Tupana do alto, acompanhado por um vento poderoso. Enquanto ele se aproximava da água, uma pequena terra emergiu do fundo, oferecendo a base para a criação do mundo. O momento em que Tupana pôs o pé na terra desencadeou a aparição do Sol no céu, que é um elemento central em muitas cosmologias indígenas. Como explica o antropólogo João Pacheco de Oliveira, “o Sol é considerado pelos nheengatu como o pai dos homens e o senhor da vida” (OLIVEIRA, 2004, p. 47). Ele também destaca que o Sol é associado ao fogo sagrado, que é usado pelos nheengatu na maioria de seus rituais e cerimônias (OLIVEIRA, 2004, p. 48).
2.1.2. O nascimento da Terra: a pele da Tupana
À medida que o Sol alcança o zênite, sua intensidade fez a pele de Tupana começar a se despregar de seu corpo. Esta pele caiu sobre a água, estendendo-se e formando a terra que conhecemos hoje. Esse simbolismo de transformação e renascimento da pele de Tupana é uma parte importante da narrativa. De acordo com o estudante Rodrigo de Araújo Ribeiro, “a pele de Tupana representa a fertilidade da terra, que é capaz de gerar vida e alimentar os seres vivos” (RIBEIRO, 2019, p. 33). Ela também fala que a pele de Tupana é vista pelos nheengatu como uma fonte de sabedoria e poder, pois contém os traços do criador (MINDLIN, 1995, p. 34).
2.2. A criação da humanidade: o sopro de Tupana
Com a terra já formada, mas ainda sem habitantes, Tupana decidiu criar a humanidade. Ele moldou figuras humanas a partir da terra e, com seu sopro divino, deu-lhes vida e alma. Inicialmente, esses seres humanos eram silenciosos e desprovidos de fala, mas Tupana os ensinou a falar e a se comunicar. Nesse sentido, o mito nheengatu revela uma visão antropogênica do mundo, onde o homem é o resultado direto da vontade e da ação de Tupana. Conforme o linguista Aryon Rodrigues, “o mito nheengatu mostra que a língua é um dom divino e um instrumento de comunhão entre os homens e entre os homens e Tupana” (RODRIGUES, 1986, p. 15), onde ele analisa que a língua nheengatu é uma língua franca na Amazônia, usada de contato entre diferentes povos indígenas (RODRIGUES, 1986, p. 16).
2.2.1 A origem do mito de Nheengatu
O mito indígena nheengatu não possui uma origem documentada específica, uma vez que faz parte da tradição oral das comunidades indígenas da Amazônia. Portanto, é difícil estabelecer uma origem precisa para o mito nheengatu ou indígena. Segundo o Recanto das Letras (2015), “a primeira documentação sobre o nheengatu data do século XVII”.
Essas narrativas mitológicas são parte integrante da cultura e da identidade das comunidades indígenas, fazendo um papel fundamental em suas crenças espirituais, tradições e compreensão do mundo. Através da tradição oral, esses mitos são transmitidos de anciãos para jovens, garantindo a continuidade de suas histórias e ensinamentos.
Assim como outros mitos indígenas, esse mito reflete a relação desses povos com a natureza, o divino e o mundo ao seu redor. Embora a origem precisa deste mito não possa ser rastreada até um evento ou local específico, sua importância cultural e espiritual é inegável.
Considerações Finais
O mito indígena nheengatu da Amazônia revela uma visão única da criação do mundo e da humanidade, enfatizando a importância do Sol, da terra e do sopro divino de Tupana na formação da vida. É uma história que ressoa com simbolismo e ensinamentos sobre a relação entre os seres humanos, a natureza e o divino. Portanto, achamos clara a importância de se compartilhar, conhecer, reconhecer e valorizar essas narrativas e histórias como parte integral da herança cultural do país e da rica tapeçaria das histórias de criação em todo o mundo.
Bibliografia
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- OLIVEIRA, Edna. “Lenda Indígena Nheengatu.” Studocu, 2022. Disponível em: www.studocu.com/pt-br/document/anhanguera-educational/administracao/lenda-indigena-nheengatu/36620399. Acesso em: 11 set. 2023.
- OLIVEIRA, João Pacheco de. A reconquista do território: etnografias do protagonismo indígena contemporâneo. 1. ed. Rio de Janeiro: Contra Capnia Livraria, 2016. Disponível em: http://jpoantropologia.com.br/pt/wp-content/uploads/2022/09/AReconquistaDoTerritorio.pdf. Acesso em 11 set. 2023.
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- RIBEIRO, Rodrigo de Araújo. Mitos indígenas nas toadas dos bois-bumbás de parintins. Manaus: Fundo Municipal de Cultura, 2019. Disponível em: http://ppgla.uea.edu.br/wp-content/uploads/2021/06/Mitos-indigenas-nas-toadas-dos-Bois-Bumbas-de-Parintins.pdf. Acesso em: 12 set. 2023.